6 de agosto de 2010

Atemporal


Hoje não é um dia muito diferente de ontem, o mesmo silêncio, a mesma monotonia, o mesmo desânimo... Que me cerca, acompanha, aprisiona. Uma nuvem pesada toma conta do meu céu acinzentado, e lágrimas, lágrimas e mais lágrimas caem por minha face. Algo tenta saltar da minha boca... É um grito da dor que há tempos me assombra, me entristece, absorve, toma minha vontade e desejo de existência.

O mundo sabe quantas vezes pensei em dar-lhe adeus, esquecer o que vim fazer de fato aqui, nesta terra onde homens destroem uns aos outros, desviam as chances de sucesso do outro como quem desvia um rio de seu curso rumo ao mar e a imensidão de oportunidades, de infindáveis limites.

Mas, sinto que posso sair. Romper com a espacialidade dessa bolha que me envolve, sei que um dia sairei. Abortarei toda e qualquer forma de vida que ouse enfrentar-me, invadir o espaço atemporal onde respiro esse ar poluído que me causa náuseas, mas que alimenta esse corpo fraco e debilitado, que se arrasta por entre dejetos, restos humanos e de humanidade.

O bicho homem toma cada vez mais forma de bicho, com selvageria, extinto assassino, capaz de tomar a vida e inocência de sua prole. O horror é perceptível num simples olhar, frio, maligno, sem qualquer presença de caráter, aliás o problema se fixa exatamente nisso. Nada pode ou consegue abalar as muralhas que separam o homem dele mesmo, ele perde-se em todo e a cada momento, soma-se a ele traços de uma serpente, pronta para dar o bote em sua presa.


Um comentário:

Bruno Ribeiro disse...

Gostei! O blog em geral esta bom, seu estilo é bem interessante, té mais!